quarta-feira, 4 de junho de 2008

Pensando nas palavras do Foucault


"Talvez nenhum outro tipo de sociedade jamais tenha acumulado, e num período relativamente tão curto, uma tal quantidade de discurso sobre o sexo. Pode ser, muitobem, que falemos mais dele do que qualquer outra coisa: obstinamo-nos nessa tarefa;convencem-nos por um estranho escrúpulo de que dele não falamos nunca o suficiente,de que somos demasiados tímidos e medrosos, que escondemos a deslumbrante evidência, por inércia e submissão, de que o essencial sempre nos escapa e ainda épreciso partir à sua procura. No que diz respeito ao sexo, a mais inexaurível e impaciente das sociedades talvez seja a nossa".

In: História da Sexualidade / VOL. 1 - Michel Foucault

domingo, 1 de junho de 2008

Marcas impressas


"Sonhei que o fogo gelou, sonhei que a neve fervia (...), sonhei que ao meio dia havia intenso luar e o povo se embebecia. João se empetecava, Maria se emperiquitava.
Doentes do coração dançavam na enfermaria, a beleza não fenecia". Chico Buarque
Revelações eclodiam pelo ar, ele me dissera que havia uma terceira peça no jogo. Expôs a problemática ao passo que acariciava-me com dedos malemolentes. Juntei os cascalhos e saí pela tangente. Teclávamos feito dois adolescentes no início de sua vida amorosa. Errantes, ávidos, soberanos.
Jamais rascunhei escritos para ele, no entanto, o moço de olhos soturnos e furo no queixo está o tempo todo dentro de mim.
Na noite psicossomática de Aracaju, genitálias se entrelaçam transportando almas para a selva dos instintos.
Tu estás distante, em certo pedaço do litoral brasileiro, és um homem de anseios múltiplos,enquanto eu vou construindo minha palavra sobre sonhos assustados. Não me importam as regras da morfossintaxe, importa-me saber se tu não atenderás mais as ligações da peça intrusa em nosso namoro politizado.
Paro por alguns instantes, volto os olhos para os gestos do Chico cantando "Outros sonhos" e,
ponho-me a desejar-te com a tua língua sugando o céu da minha boca.
Lembro da nossa última despedida, você enviava beijos nas pontas dos meus dedos até que o beijo alcançasse a abertura dos meus poros lúbricos.
O mundo nasce e fenece lá fora, fetos são fecundados em quartos imundos de pousadas no centro da cidade. Assesxuados sofrem com sonhos, cujo conteúdo é educação sexual. Gatos trepam no telhado, penetenciando o silêncio de moralistas que recheiam camas "kingsize".
Vem agora e me adultera com o teu corpo de falso magro, deita sobre mim, abre as minhas pernas, acomoda-se no escuro que é meu e teu. Eu lambo o lóbulo da tua orelha. Leia o soneto do Vinícius, apague a luz e deixa que o resto contamos depois que as marcas de esperma impressas num canto negróide da parede, sejam descobertas.