quarta-feira, 30 de abril de 2008

Sétimo Dia



Já reescrevi essas palavras imundas três vezes tentando elaborar algo que sirva de acalento nessa noite desnutrida de sábado. O telefone não tocou, ele não surgiu e eu fiquei horas a fio conectado num troço que chamamos de rede virtual, a espera do moço que escapuliu pela janela da incógnita.
Custa-me escrever-lhe coisas que mereçam a sua atenção, antes do processo escriturário, eu assisti a um filme pornográfico enquanto acariciava freneticamente meu órgão genital. De lá eu tirei forças para continuar a sobreviver na noite pálida da cidade litorânea. Tua ausência dilacera os minutos que vão se concretizando. É como se o sonho desse lugar ao pesadelo e deste nascesse um filho rejeitado, feio, leproso e amargo. Desejo as tuas mãos sobre a minha pele ossuda, acomodando-se entre os espaços carentes de músculos, vislumbrei a tua língua percorrendo os cantos mais impróprios da minha congênita condição fálica. Saboreei por instantes enfezados o ardor do teu membro estreitando-se por meio do infinito de vasos sanguíneos que residem no meu orifício rei.
Olha eu não escrevo para agradar ou chocar, simplesmente eu obedeço o que vem e deixo que ocorra o processo do dizer. São as palavras que me manipulam e eu acato as suas ordens fantasmagóricas. Não me interessam as rimas e os ritmos que a escrita pode oferecer ao interlocutor, eu quero a desconstrução, sou muitos seres dentro de um invólucro limitado.
Na noite sanguinolenta de sábado, completam-se sete dias que ele partira para um mundo encantado. Agora eu não posso mais ser ator, nem tampouco desdizer conceitos que são expostos por intermédio de palavras que tentam burlar a verdade dos fatos. Ele se fora da mesma forma que viera ao planeta. Do caos placentário surgira para em pouco anos de existência desaparecer dentro de um caixão. Suas carnes que eu tanto apreciei, hoje aniquilam-se na vastidão destrutiva dos vermes que residem na terra seca. São os micróbios que neste momento se alimentam do corpo viril que tu possuías. Ah como dói entender que contos tornam-se histórias macabras em intervalos levíssimos de piscar de olhos.

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